Capítulo VII: Cosmovisões de protesto e
sociedades religiosas na Modernidade.
Espiritismo:
a embaixada dos espíritos superiores.
A
tese fundamental do Espiritismo é a de que um contato entre personalidades
deste e do outro mundo é essencialmente possível. O Espiritismo evoca para si a
condição profética do Judaísmo e do Cristianismo, mas também se funda no campo
da experimentação. Desde os seus princípios ele teve de combater em duas
frentes. De uma lado luta contra a orientação materialista sobre este mundo...
e virou-se, de outro lado, contra elementos rígidos do Cristianismo
dogmático-confessional. (pg. 173)
É
fundamental diferenciar o espiritismo científico, exclusivamente dedicado a
provar a sobrevivência da alma após a morte do corpo, e o espiritismo revelado
ou espiritualismo.
O
representante mais importante do espiritismo europeu e sul americano é o médico
e erudito León Hyppolite Denizard Rivail, conhecido pelo pseudônimo de Allan
Kardec. (pg. 174)
Obs: Após uma
curta exposição do “espiritismo de Kardec”, Obst conclui enfatizando ser ele
marcado e diferenciado de outros tipos de espiritismo pelo fato de incluir a
reencarnação como elemento fundamental de sua coerência teórica. Interessante
notar que o autor define Kardec como médico, e escreve seu nome errado (já
corrigimos a grafia acima).Obst apresenta também informações que, conquanto não
exatamente incorretas, soam confusas. Tudo nos leva a crer que seu conhecimento
biográfico sobre Kardec é indireto, tendo lido tão somente o Livro dos
Espíritos e obras alemãs.
O Espiritismo estende as exigências
quanto a uma interpretação racional do mundo, onde um mundo transcendente de
existência concreta está inserido. (pg. 180)
Teosofia:
A reencarnação como verdade primordial
A
teosofia cresceu às margens do espiritismo e do ocultismo, assim como nos
bastidores de um crescente interesse pelas religiões não cristãs, especialmente
o Budismo e o Hinduísmo. (pg. 181)
A
figura central da teosofia é a russo alemã Helena Blavatsky, nascida condessa
de Hahn, seguida pelo americano Oberst Henry Olcott.
Além
de pregar a reencarnação, a teosofia apresenta uma doutrina dos mestres, que
reencarnariam de tempos em tempos para iluminar a humanidade. Krishna, Buda e
Jesus estão entre essas grandes personalidades. (pg. 182-183)
Mahatma
Gandhi foi uma das personalidades influenciadas pela teosofia, e inclusive
mantinha uma foto de Annie Besant (teósofa da geração posterior a Blavastky),
em seu escritório. (pg. 184)
Antroposofia:
O conhecimento que conduz ao desdobramento do Eu.
A mais importante, porque a mais
influente derivação da teosofia, é a antroposofia. Quando a teosofia se
subdividiu em uma divisão hindu, liderada por Krishnamurti, e uma divisão
cristã, liderada por Rudolf Steiner, surgiu a antroposofia.
A
senda investigativa da antroposofia inclui meditação, exercícios espirituais e
especulação racional. Jesus Cristo desempenha um importante papel neste caminho
cognitivo e salvífico da antroposofia. Contudo, permanece a controvérsia entre
a teologia cristã e a antroposofia, quanto a poder-se identificar o Cristo do
Novo Testamento ao Cristo de Steiner.
No
sistema antroposófico, a reencarnação e a doutrina do karma têm lugar
central. (pg. 187)
Ela
(a antroposofia) põe-se em confronto com as noções materialistas de evolução,
de Darwin e Haekel. Para a antroposofia, já se percebe pelo nome, a questão
sobre a essência do homem tem prioridade. (pg.188)
Através
de Steiner e da antroposofia a ideia de reencarnação atingiu sua máxima
abrangência no Ocidente, com isto levando o otimismo-evolucionista à outras
camadas, especialmente a dos eruditos.
Os
Gurus: Doutrinas orientais para ocidentais em busca de sentido.
Nos
anos sessenta do século XX os movimentos de protesto cristãos se depararam com
uma inesperada concorrência. Novos movimentos originados da religiosidade
oriental se espraiavam pela Europa e América do Norte. Eram missionários, algo
agressivos, que se voltavam especialmente para os jovens. Através dele
intensificaram-se no Ocidente as crenças na transmigração das almas,
particularmente entre os jovens daquela geração. (pg. 213)
Obs: Segue
uma lista de nomes e seus respectivos ensinamentos. Como era de se esperar. São
citados: Vivekananda, Prabhupada, Ramakrishna e Aurobindo. O tópico seguinte,
sobre reencarnação na Nova Era, apresenta uma exposição genérica sem grandes
detalhes ou novidades, enfocando os trabalhos de Kübler-Ross, Ian Stevenson e pesquisadores
do centro de estudos psíquicos de Freiburg.
Capítulo VIII: Reações da Igreja e novas
abordagens teológicas.
É um
sinal de alarme, um desafio das igrejas confessionais e livres, que as ideias
reencarnacionistas tenham sido recebidas com simpatia por muitos grupos
cristãos a partir do século XIX. Na pergunta central sobre o de onde e para
onde do homem, após a vida e a morte, as doutrinas tradicionais das igrejas
perderam paulatinamente em plausibilidade e atração. (pg. 230)
Paul
Althaus, por exemplo, é um dos teólogos mais renomados da tradição luterana, e
defensor de uma versão esclarecida do Cristianismo, onde nenhuma noção de
imortalidade possui lugar. (pg. 235)
Nas
igrejas ortodoxas a ideia de um renascimento é eliminada a partir da condenação
oficial de toda espécie de preexistência da alma, em 553 d.C. A longa história
do combate às heresias é, ao menos em parte, a história da guerra da Igreja
contra a crença na reencarnação. (pg. 236)
O
cientista da religião e teólogo Hans Waldenfels chegou ao seguinte juízo: “Não
há reconciliação possível entre a fé cristã e uma doutrina reencarnacionista
consequentemente compreendida.” (pg. 238)
Obs: A lista
de teólogos que se posiciona contra a reencarnação é bastante longa, mas seus
argumentos não divergem destes: problema da preexistência; problema da
completude da vida cristã, que os teólogos veem como negada pela ideia de um
retorno à vida.
Um dos exemplos mais
proeminentes de simpatia pela reencarnação é a postura de Ernst Troeltsch, um
dos mais importantes representantes da teologia liberal e influente cientista
da cultura. (pg. 246)
Nas
palavras de Troeltsch, há duas opções para o problema da alma: “Resta-nos
somente a predestinação, uma participação desigual dos indivíduos nos suprema e
absoluta finalidade do mundo, ou um retorno ao corpo que leve todos
progressivamente à santidade ou a uma transformação após a morte, ou talvez
estas duas relações juntas. Não nego que eu esteja mais inclinado para esta
última doutrina, tal qual Lessing.” (pg. 247)
O autor: Helmut Obst destacou-se no final de sua carreira
pelos estudos sobre elementos religiosos de culturas estranhas ou ideias
consideradas novas na tradição cristã. Foi um dos intelectuais de projeção da
Universidade de Halle, especializada nas relações e debates entre ciência e
ocultismo, bem como no movimento pietista. A reencarnação e o Espiritismo são
alguns de seus temas favoritos neste período.
Bibliografia:
OBST, Helmut. Reinkarnation: Weltgeschichte einer Idee.
München: Verlag C.H. Beck, 2009.
Nenhum comentário:
Postar um comentário